10 de mar. de 2018

Uma montanha russa




Às vezes, minha existência judia da minha capacidade de raciocinar. Penso sem parar em trocentos mundos anti paralelos, curvos, com voltas e voltas; e construo uma montanha russa imaginária. Mas ela é tão complexa que embaralha meu raciocínio, me desespera, ataca meu coração, a ansiedade e a adrenalina me dão um tapa na cara, eu me desprendo do cinto de segurança e desabo em uma das curvas da minha montanha russa. Eu desabo no precipício do meu próprio ser e ouço meu próprio grito estridente, mas não com meus ouvidos. Ouço minha voz ecoando dentro da minha cabeça, e a consequência escorre por meus olhos.

Eu tenho medo de pensamentos. E talvez este seja um dos meus maiores medos da vida, pois pensamentos têm força e quando eles se unem, tornam-se muito mais fortes que eu. Isso me cansa. Pensar demais cansa, pensamentos cansam a minha existência relativa. Eles cansam tanto, eles me mastigam e cospem em mim. Eles machucam, apertam meu coração, eles não tem dó das minhas fraquezas. Eles sugam minhas energias, energias que eu busco tão incansavelmente... E eu acabo despedaçando sem querer alguma hora.

Eu despedaço porque não sei agir e muitas das vezes opto pela ação errônea. Eu despedaço porque às vezes tanto a direita quanto a esquerda me levam à mesma parede onde bato de frente com minhas dúvidas, anseios e inseguranças. Às vezes, eu me sinto em um labirinto, correndo procurando a saída, enquanto o mundo me observa rindo, pois o labirinto não tem uma saída e eu continuo me iludindo na esperança de sair dali e encontrar um grande campo aberto de gramas verdinhas e um céu azul cheio de nuvens em formato de coração.  

Eu tenho pólos extremos e nunca sei andar ali por aquele caminho do meio, onde tudo parece mais tranquilo e equilibrado. Ou eu sou de mais ou eu sou de menos. Eu percorro ruas erradas, e as ruas são minhas próprias pernas; confusas, perdidas, cansadas, cheias de rachaduras e paralelepípedos quebrados, cheias de becos escuros e perigosos. E minhas ruas são molhadas porque lá de cima a chuva cai com medo do impacto, com nostalgia, ela cai com lembranças e vontade de mudanças. E meus olhos são as nuvens, de onde chove, e chove tanto...

E o dia passa rápido aqui nessa cidade que sou eu mesma, a existência se acelera e às vezes eu perco a noção do mundo, pois tenho a estranha mania de viver no meu próprio mundo. Mas o tempo é relativo demais para eu temer uma rapidez aparente ou ter pressas desnecessárias. Eu penso sobre as velocidades do tempo e nos relógios da vida e tropeço nas minhas contradições... Porque também  penso que minha família  tem pressas óbvias; pressa por liberdade, por felicidade, por paz, e nesses momentos o tempo deixa de ser relativo para mim e torna-se concreto demais para ignorá-lo. Eu quero ter calma e pensar que ainda tenho tempo demais pela frente, que sou muito nova e que na verdade o tempo não existe! Mas nem sempre pensarei assim. As dúvidas e as instabilidades me fazem sim ter pressa, porque eu não consigo não temer o futuro.

E eu também penso no amor, nos diferentes lados do amor... Penso que amor e felicidade andam juntos, porque falta de amor leva à amargura. Penso que dependo de alguém para amar, ser amada e assim, ser feliz, porque eu nunca aprendi a ser feliz sozinha. Eu sempre tive medo da solidão. Mas ora, dias atrás eu também pensei que o amor próprio existe e precisamos dele em primeiro lugar. E minha concepção de amor se torna mais uma de minhas eternas contradições.

Dizem que temos que plantar o amor, mas eu nunca precisei disso... Eu nunca plantei um amor, porque o amor sempre esteve ativo em mim, o amor sempre esteve dentro da minha alma, eu sempre o senti, inclusive eu sempre sinto demais; o amor sou eu mesma inteirinha. O amor foi plantado em mim no dia que eu nasci e hoje sou uma árvore inteira que só quer ser polinizada para espalhar amor ao mundo. Só que o amor dói, e dor de amor é a dor que mais afeta o estado da felicidade. Ironias da existência...

Penso que talvez o amor seja um portal. Aquele único ponto onde o físico e o espiritual se conectam já que ele afeta os dois lados. E se é no amor que o mundo físico e o mundo espiritual se conectam, talvez o amor seja a resposta para a comprovação da existência de outros planos, e isso poderia ser a salvação de muitas vidas se todos fôssemos amor. E isso é bonito de se pensar, pois acabo caindo naquele outro pensamento que também já pensei sobre Deus ser amor, e também sobre Deus ser tudo, todas as energias, as energias de cada ser, o que faz o mundo ser o mundo. Mas não existe amor em tudo, existem muitas guerras pelo mundo – o que vai completamente contra o conceito de amor - e nem todo amor é correspondido. Portanto, ou Deus não é amor ou Deus não é tudo ou Deus não existe, pois eu prefiro pensar que o amor existe.

Só que o amor é difícil, é complicado e por muitas vezes não depende só de mim. Porque o amor deve ser compartilhado! Eu não posso amar sozinha... Às vezes penso que eu não dou certo no amor por conta de quem eu sou, por conta daquela minha existência relativa que me faz ser perdida e me faz agir erroneamente. E aí eu preciso ser forte e resistente para suportar tanto pensamento aleatório, porque o pensamento realmente machuca e o amor também. Mas a força tem de ser estável, e eu sou inteiramente fluida e frágil. Tenho uma "r existência fluida", praguejada e sempre relativa. Tenho a montanha russa em mim.

Eu vivo nas instabilidades e isso me dá medo, porque instabilidade traz mudanças repentinas e surpresas que nem sempre surgem a favor dos meus desejos e anseios. Em um pequeno instante do universo mundos podem mudar, pensamentos podem mudar, tudo pode mudar e então, eu viro solidão. Eu viro uma poeira imperceptível que flutua no meio do nada, sozinha e pensativa, procurando por um pouco de amor em algum coração, sonhando com o impossível e almejando ver o mundo inteiro espalhando por aí que o amor não é banal.     


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